A interdisciplinaridade começou a ser abordada no Brasil a partir da Lei de Diretrizes e Bases nº 5.692/71. Desde então, sua presença no cenário educacional brasileiro tem se tornado mais presente e, recentemente, mais ainda, com a nova LDB n º 9.394/96 e com os Parâmetros. Além da sua grande influência na legislação e nas propostas curriculares, a interdisciplinaridade tornou-se cada vez mais presente no discurso e na prática de professores.
Apesar disso, estudos tem revelado que a interdisciplinaridade ainda é pouco conhecida. E é com o objetivo de contribuir para o entendimento desse tema que apresentaremos a seguir um breve resumo das principais concepções e controvérsias em torno desse tema.
Porém, antes de discutirmos sobre a interdisciplinaridade propriamente dita, precisamos distingui-la de outros termos que tem ferado uma serie de ambiguidade por expressarem ideais muito próximas entre si.
NÍVEIS DE INTERAÇÃO ENTRE AS DISCIPLINAS
Multidisciplinaridade
Descrição geral: gama de disciplinas que propomos
simultaneamente, mas sem fazer aparecer
as relações que podem existir
entre elas. [...] Tipo de sistemas:
sistema de um só nível e de objetivos múltiplos; nenhuma cooperação
(JAPIASSÚ, 1976, p. 73).
Pluridisciplinaridade
Descrição geral: justaposição de diversas disciplinas
situadas geralmente no mesmo nível hierárquico e agrupadas de modo
a fazer aparecer as relações existentes
entre elas. [...] Tipo de sistema: sistema
de um só nível e de objetivos múltiplos; cooperação, mas sem
coordenação (JAPIASSÚ, 1976, p. 73).
Interdisciplinaridade
Descrição geral: axiomática comum a um grupo de
disciplinas conexas e definida no nível hierárquico imediatamente
superior, o que introduz a noção de finalidade. [...]
Tipo de sistema:
sistema de dois níveis e de objetivos múltiplos; coordenação procedendo do nível superior (JAPIASSÚ,
1976, p. 73).
Transdisciplinaridade
Descrição geral: coordenação de todas as disciplinas e interdisciplinas do sistema
de ensino inovado, sobre a base de uma axiomática geral. [...] Tipo de
sistema: sistema de níveis e objetivos múltiplos; coordenação com vistas a
uma finalidade comum dos sistemas (JAPIASSÚ, 1976, p. 73-74).
Este último nível, o da transdisciplinaridade, não foi originalmente proposto por Eric Jantsch, trata-se de uma proposta de Jean
Piaget que tem se fortalecido no meio
acadêmico recentemente. No Brasil há inclusive um Centro de Educação Transdisciplinar na Universidade
de São Paulo (CETRANS-USP). Uma das
prerrogativas de desses estudos é a busca da superação do paradigma interdisciplinar, no entanto,
cremos que a interdisciplinaridade por si mesma já representa um grande
desafio para o ensino básico
ainda não atingido
de forma satisfatória, por
isso nesse trabalho nos limitaremos à análise do paradigma interdisciplinar.
- Classificações da interdisciplinaridade
1) Interdisciplinaridade heterogênea
Pertencem a esse tipo os enfoques
de caráter enciclopédico, combinando programas
diferentemente dosados. Tais
programas objetivavam garantir
uma formação ampla e geral. Entretanto, segundo
Japiassú (1976), as idéias gerais são
geradoras de imobilismo.
2 ) Pseudo-interdisciplinaridade
Pertencem a este tipo as diversas
tentativas de utilização de certos
instrumentos conceituais e de análise, considerados epistemologicamente “neutros”, tais como os modelos
matemáticos, por exemplo, para fins de associação das disciplinas, todas devendo recorrer aos mesmos instrumentos
de análise que seriam o denominador comum das pesquisas. Para Japiassú (1976),
o emprego desses instrumentos comuns não é
suficiente para conduzir a um empreendimento
interdisciplinar. E é por isso que este tipo de colaboração pode ser tachado de falso interdisciplinar.
3) Interdisciplinaridade auxiliar
Este tipo de associação consiste, essencialmente, no fato de uma disciplina tomar de empréstimo a uma outra seu método ou seus procedimentos. Em alguns
casos, este tipo de interdisciplinaridade não ultrapassa o domínio da ocasionalidade e das situações provisórias. Em outros, é mais durável,
na medida em que uma disciplina se vê constantemente
forçada a empregar os métodos de outra, é o caso,
por exemplo, da pedagogia que constantemente precisa recorrer à psicologia. Follari (1995) figura entre os estudiosos
que questionam a validade dessa forma de
interdisciplinaridade, como veremos mais adiante.
4 ) Interdisciplinaridade compósita
autonomia e a integridade de seus métodos,
de seus conceitos-chaves e de suas epistemologias.
É levada a efeito quando se trata
de resolver os grandes e complexos
problemas colocados pela sociedade atual: guerra, fome, delinquência, poluição dentre outros. Trata-se de
reunir várias especialidades para encontrar
soluções técnicas tendo em vista resolver determinados problemas, apesar
das contingências históricas em
constante mutação. Todavia, nem os domínios materiais nem tampouco os domínios de estudo dessas disciplinas, com seus
níveis de integração teórica, entram
numa real interação. O que se verifica é apenas uma conjugação de disciplinas por aglomeração, cada uma dando
sua contribuição, mas guardando a autonomia e a integridade de seus métodos,
de seus conceitos-chaves e de suas epistemologias.
5) Interdisciplinaridade unificadora
Procede de uma coerência bastante
estreita dos domínios de estudo das
disciplinas, havendo certa integração de seus níveis
de integração teórica
e dos métodos correspondentes.
Por exemplo, certos elementos e certas perspectivas da biologia ganharam o domínio da física para formar a biofísica.
Segundo Japiassú (1976),
esses cinco tipos podem ser reduzidos a dois a interdisciplinaridade linear (ou
cruzada) e a estrutural .Nesse sentido, acredita-se na importância da interdisciplinaridade por defender que se trata de uma abordagem natural diante do conhecimento que não é fragmentado e nem tampouco isolado.
Ademais, a interdisciplinaridade busca a ampliação e o enriquecimento do saber, não no sentido de sobrecarregar o ensino de determinado assunto com futilidades e superficialidades, mas no sentido de vislumbrar possibilidades e enfoques que superem o reducionismo e o minimalismo do enfoque tradicional. Outra vantagem é que a interdisciplinaridade não limita a utilização de diferentes enfoques ou abordagens de ensino, nesse sentido ela favorece a aplicação de diversos enfoques.
Referência Bibliográfica:
Jairo Gonçalves Carlos. Interdisciplinaridade no Ensino Médio: desafios e potencialidades. MESTRADO PROFISSIONALIZANTE EM ENSINO DE CIÊNCIAS UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA, 2007
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